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Two lines

VERSÃO EM PORTUGUÊS

João Dumans’ The Lines of my Hand (As Linhas de Minha Mão, 2023) has been in theaters in Brazil for the past two or three weeks. It is the director’s follow up to his excellent feature debut, Araby (Arábia, 2017), which was co-directed with Affonso Uchôa. The film won the Mostra Aurora award at Mostra de Tiradentes in 2023, and the festival invited me to talk about it and discuss it with the filmmaker and crew the morning after the screening. At the time, I edited and transcribed my talk and I think it’s a good time to bring it back, now that the film has been watched by more people. 

The Lines of my Hand joins André Novais de Oliveira‘s lovely The Day I Met You (O Dia Que Te Conheci, 2023)–recently screened at Lincoln Center/MoMA’s New Directors/New Films–as two recent films to pursue and suggest interesting artistic approaches to mental health. In The Day I Met You, the mental states of two fictional characters becomes the bonding agent for a refreshing and unexpected take on the conventions of the rom com, which is graced with the director’s usual featherlight touch. 

A documentary, Dumans’ film is a portrait of Viviane de Cássia Ferreira, an artist, actor and performer, member of the group Sapos e Afogados, who explores her unconventional mental state as the propelling force of her work. This gesture inserts the film in a lineage of films that take inspiration from, more than depict, non-normative mental states, such as Robert Frank’s Me and My Brother (1969) and Jonathan Caouette’s Tarnation (2000). 

However, there is another aspect to the film that connects with Novais de Oliveira’s latest feature in a different way. While Novais’ recent work has explored the possible combinations between trained and untrained actors, creating a vertiginous accumulation of layers of lived experience and performance, Dumans’ film explores the coexistence of these layers in a single character. As expected with documentaries about performers, The Lines of my Hands ends up creating a hall of mirrors in which physical reality, imagination, and projection are constantly in tension. In that respect, the film is also addressing and adding to a particularly productive streak of contemporary Brazilian cinema that investigates the instability of the performative utterance, and includes films such as Gustavo Vinagre and Rodrigo Carneiro’s The Blue Flower of Novalis (A Rosa Azul de Novalis, 2018), Sergio Silva’s My Only Earth is in the Moon (Minha Única Terra É Na Lua, 2017) and, of course, Eduardo Coutinho’s Moscow (Moscou, 2009) and Playing (Jogo de Cena, 2007). 

These two different layers interact in a particularly powerful way: the directorial restraint that marks the film’s mix of sketches and observational sequences frames Viviane de Cássia Ferreira’s non-normative mind as unique, but not exceptional, reinserting it into the prosaic multiplicity of being alive in the world. 


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Duas linhas

O filme As Linhas de Minha Mão (2023), de João Dumans, está em cartaz nos cinemas brasileiros há algumas semanas. É o primeiro longa do diretor desde o excelente Arábia (2017), que foi codirigido por Affonso Uchôa. O filme ganhou o prêmio Mostra Aurora na Mostra de Tiradentes em 2023, e o festival me convidou para falar sobre o filme e discuti-lo com os realizadores na manhã seguinte à exibição. Transcrevi e editei minha fala, e acho que é boa hora para trazê-la de volta, agora que o filme foi visto por mais pessoas.

As Linhas de Minha Mão se junta ao belíssimo O Dia Que Te Conheci (2023), de André Novais de Oliveira, recentemente exibido no New Directors/New Films do Lincoln Center/MoMA, como exemplos de filmes recentes com abordagens artísticas interessantes sobre instabilidade psíquica – questão especialmente presente no imaginário e na realidade brasileira pós pandemia. Em O Dia Que Te Conheci, os estados mentais de dois personagens fictícios são veículo para uma reinvenção surpreendente das convenções da comédia romântica, agraciadas com o toque de leveza habitual do diretor.

Documentário, o filme de Dumans é um retrato de Viviane de Cássia Ferreira, artista, atriz e performer, integrante do grupo Sapos e Afogados, que explora sua psicologia não convencional como força propulsora de seu trabalho. Esse gesto insere o filme em linhagem que se inspira, mais do que retrata, condições mentais não-normativas, como Me and My Brother (1969), de Robert Frank, e Tarnation (2000), de Jonathan Caouette.

No entanto, há outro aspecto do filme que se conecta com o último longa-metragem de Novais de Oliveira de uma maneira talvez menos evidente. Enquanto os dois últimos longas do diretor exploram combinações de atores treinados e não treinados, criando um acúmulo vertiginoso de camadas de experiência vivida com uma auto-consciência performática, o filme de Dumans explora a coexistência dessas camadas em um único personagem. Como é de se esperar de documentários sobre artistas, As Linhas de Minha Mão erige uma sala de espelhos na qual a realidade física, a imaginação e a projeção estão em  constante tensão. Nesse sentido, o filme também endereça e se soma a um veio particularmente produtivo do cinema brasileiro contemporâneo que investiga a instabilidade do enunciado performático, e inclui filmes como A Rosa Azul de Novalis (2018), de Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro, Minha Única Terra É Na Lua (2017), de Sergio Silva, e, é claro, Moscou (2009) e Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho.

Essas duas camadas diferentes interagem de forma particularmente poderosa: a contenção da direção, marcada por uma mistura de esquetes e observações, enquadra a vida psíquica de Viviane de Cássia Ferreira como particular, mas não excepcional, reinserindo-a na multiplicidade prosaica de se estar vivo no mundo.

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