Microdrama
There are many striking, remarkable moments in André Novais’ second feature, the beautiful Temporada (Long Way Home, 2018), which had its US premiere last night, at New Directors/New Films. In the film, beauty may come from a variety of different places: the intricate musicality of Novais’ dialogues; the extreme attention to detail in the work of the actors; the way a loose end in the plot suddenly expands the meaning of the elliptical, yet meticulously consequential script; the way the shots, often staged through long takes and tableaux, paradoxically enhances each small detail that seems always on the verge of getting lost in the immensity of the screen.
But perhaps the best way to measure the complexity of Novais’ work is not to look at these remarkable moments when things find different ways to pop out of the screen, but to engage with what appears to be unremarkable, unmemorable, as if designed to be overlooked.
In Temporada, the moment in which the tension between the remarkable and the unremarkable within a single shot finds its most paradoxical clarity is the tenth shot in the film – a tilt-pan from right to left that shows Juliana (Grace Passô) returning home after her first day in her new job. It’s the kind of transitional shot – from day to night, from the public to the private, from work life to domestic life – that holds a very specific place within cinematic conventions, both narratively and rhythmically, and that the film seems to use precisely for that: the camera follows the action on a wide shot, showing the protagonist moving through space, transitioning into the film’s next section.
But not quite. Halfway through the shot, Juliana arrives at an intersection and bears right, walking away from the camera. The action is played with the naturality of the every-day; her legs are moved by the mechanics of the habitual. But a few steps later, Juliana suddenly stops. She turns and looks around, changing course, and then she starts walking left. When she gets to the intersection again, she stops by the street sign to doublecheck, and then take the left road, as the camera pans to follow her movement.
What appears to be a throw-away transition is, in fact, a potential summary of the whole film, a microdrama tucked in the seams of the ordinary. For what is Temporada but the story of a woman who’s trying to get home (a new home) taking paths she hasn’t fully learned yet? And what better metaphor for André Novais’ cinema – a director so focused on street names, corners, maps, and an entire emotional cartography of Contagem and the people who live there – than that of the uncanny familiarity of an unknown intersection, this road that, yet so distant, guard ways to lead you home?
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Microdrama
Há muitos instantes de grandeza em Temporada, o segundo longa-metragem de André Novais. No filme, tal beleza pode surgir em toda sorte de lugar: na musicalidade trançada dos diálogos de Novais; na extrema atenção aos detalhes do trabalho dos atores; na forma como uma pontal solta na trama subitamente expande os sentidos de um roteiro elíptico, mas meticulosamente consequente; na maneira como os planos, muitas vezes encenados na duração de um tableau, paradoxalmente potencializam cada pequeno detalhe que parecem sempre a um passo de se perder na imensidão da tela.
Mas talvez a melhor forma de medir a complexidade do trabalho de Novais se dê não nesses momentos notáveis em que as coisas encontram jeitos diferentes para saltar da tela, mas justamente no que passa por imperceptível, esquecível, feito para ser subestimado.
Em Temporada, o momento que alcança a mais paradoxal clareza nesta tensão entre a síntese e a dispersão dentro de um mesmo instante se dá no décimo plano do filme – uma combinação de tilt e pan da esquerda pra direita que mostra Juliana (Grace Passô) voltando para casa após seu primeiro dia em um novo trabalho. É um típico plano de transição – do dia pra noite, do público para o privado, da vida do trabalho para o aconchego doméstico – que cumpre função muito específica nas convenções do cinema, tanto narrativa quanto ritmicamente, e que o filme adota justamente por isso: a câmera segue a ação em plano aberto, mostrando a protagonista se movendo pelo espaço, levando o filme ao estágio seguinte.
Só que não. Na metade do plano, Juliana chega a uma interseção e mantém-se à direita, se distanciando da câmera. A ação é movida pela naturalidade do cotidiano; o torque de suas pernas vem da mecânica do hábito. Mas alguns passos depois, Juliana pára de pronto. Ela se vira e olha ao redor, mudando de curso, e começa a caminhar para a esquerda. Quando ela chega novamente à interseção, ela checa o nome da rua estampado na placa, e aí toma o caminho da esquerda, enquanto a câmera faz um pan que acompanha seu movimento.
O que parece uma transição descartável é, de fato, um resumo em potencial de todo o filme, um microdrama costurado na bainha do comum. Pois o que é Temporada que não a história de uma mulher que tenta chegar em casa (uma nova casa) por caminhos que ela ainda desconhece? E qual metáfora mais apropriada ao cinema de André Novais – um diretor tão atento aos nomes das ruas, às esquinas, aos mapas regionais, e a toda uma cartografia emocional de Contagem e das pessoas que lá moram – do que essa estranha familiaridade que de uma interseção desconhecida, desta estrada que, embora tão distante, parece saber os caminhos que te levam de volta pra casa?
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