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Olhar de Cinema 2024, #02

VERSÃO EM PORTUGUÊS

Tijolo por Tijolo (Brick by Brick, 2024), by Victória Álvares and Quentin Delaroche, is a fresh take on a genre under historical stress: the observational documentary. Their second co-direction continues to pursue a question that was already posed, although not as eloquently, by the excellent Bloqueio (Block, 2018): what is the role of observation in a world where performance has become an integral part of daily life? 

For Brick by Brick, the film that opened Olhar de Cinemas Brazilian competition, the directors spent several years recording both the domestic and the public life of Cris Martins, a mother and activist who becomes an influencer to raise money to rebuild her family’s decaying house. The construction of the house, which is thoroughly broadcasted on social media by Chris, her husband Albert Ventura, and even their children, provides a temporal frame for the film’s structure, which spans roughly three years. In this time span, the film’s melodrama heroine gets pregnant for the fourth time, leading her to spend significant time and energy fighting for her right for a tubal ligation through Brazil’s public health system. 

In the press/audience conference, which is available (without subtitles) on the festival’s YouTube channel, they told an anecdote that I found particularly evocative of the new relations that this historical and technological moment entails: even though the film is just being released now, Cris Martins’ followers had been following its making for years, since she was also documenting the presence of the crew in her social media platforms. There is, therefore, another informal film out there that returns the ethnographic gaze in an entirely new way.

I asked the directors about the peculiar challenges of making an observational documentary with characters whose daily life was performed for their own cameras: 

Quentin Delaroche: We understood that our relationship with the characters happened in three different ways: there were the people with whom we related, who became characters once we started filming them… but there were also their social media personas. From the start, we were very interested in witnessing these motions, because Cris is one person on social media, with us she is a different person, and Cris as Helena’s mother when she is screaming is yet another person. There are several layers, and we really wanted them to be present in the film. So we tried to weave them, pass from the persona to the character, and in the moments she addresses us and the camera it is the person, the relationship that we’ve developed with her off-screen.

Victória Álvares: Yes, that was even a vocabulary that we used on set. How are we going to pass from one to the other? Because there is, indeed, the person, the persona, and the character. We are creating the character, and that is the Cris that we are sharing with the audience, but there is the persona that she herself creates for social media, and there is who she is. And I think time taught us how to combine these three things. I recall that Isaque, Cris’s oldest son, loved it when we were there, because he would say there was a “camera magic”—that was Isaque’s expression. Because he noticed that, especially in the beginning, Cris was nicer when we were there filming. So if she had to tell him to go brush his teeth, she wouldn’t yell if he did not comply. So he loved it! Except that, with time, the camera magic died out. It didn’t last very long. 


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Olhar de Cinema 2024, #02

Tijolo por Tijolo (2024), de Victória Álvares e Quentin Delaroche, traz nova abordagem para um gênero sob tensão: o documentário observacional. Nesta segunda codireção, a dupla continua a perseguir uma questão já colocada, embora não tão eloquentemente, pelo excelente Bloqueio (2018): qual é o papel da observação em um mundo onde a performance se tornou parte da vida cotidiana? 

Em Tijolo por Tijolo, filme que abriu a competição brasileira do Olhar de Cinema, os diretores passam vários anos registrando a vida doméstica e pública de Cris Martins, uma mãe e ativista que se torna uma influenciadora para arrecadar dinheiro para reconstruir a casa em ruínas de sua família. A construção, que é exaustivamente transmitida nas mídias sociais por Cris, seu marido Albert Ventura e até mesmo seus filhos, fornece uma moldura temporal como estrutura ao filme, que se estende por aproximadamente três anos. Nesse período, a heroína melodramática do documentário engravida pela quarta vez, e passa a gastar preciosos tempo e energia lutando pelo seu direito de fazer uma laqueadura pelo SUS. 

Na coletiva com imprensa e público, disponível no canal do YouTube do festival, eles contaram uma anedota sugestiva das novas relações que esse momento histórico e tecnológico implica: embora o filme esteja sendo lançado agora, os seguidores de Cris Martins já acompanhavam sua produção há anos, pois ela também documentava a presença da equipe em suas redes sociais. Há, portanto, outro filme informal por aí que retorna o olhar etnográfico de uma forma totalmente nova. 

Já no final da coletiva, perguntei aos diretores sobre a experiência de realizar um documentário observacional sobre personagens cuja vida cotidiana era performada para suas próprias câmeras: 

Quentin Delaroche: A gente pensou a nossa relação com as personagens de três formas: tem as pessoas com quem a gente se relacionava, e que, quando a gente começa a filmá-las, viram personagens, e tem também a persona de Cris das redes sociais. Pra gente, era muito interessante, desde o começo, ver essas movimentações. Porque Cris, nas redes sociais, é uma pessoa; Cris com a gente é uma outra pessoa; Cris sendo mãe de Helena, que tá gritando, é outra pessoa… enfim, são muitas camadas. E a gente queria muito que isso estivesse presente no filme. Então a gente tentou entrelaçar, passar da persona pro personagem, e quando ela fala pra gente, pra câmera, vira a pessoa, né? A relação que a gente tem fora de quadro. 

Victória Álvares: De fato, era um vocabulário que a gente tinha, inclusive. Como é que a gente vai fazer pra passar de um pro outro? Porque tem a pessoa, a persona, e o personagem. O personagem que a gente vai construir, que é a Cris que a gente vai apresentar pra vocês. A persona de Cris que ela própria cria, e divulga nas redes sociais. E quem ela é. E acho que o tempo foi mestre para fazer que a gente conseguisse misturar essas três coisas. Eu lembro muito de Isaque, que é o filho mais velho de Cris, que amava quando a gente tava lá, porque ele dizia “a magia das câmeras”! “A magia das câmeras” é a frase de Isaque. Porque, principalmente no início, ele achava que Cris ficava menos brava quando a gente tava lá filmando. Então se ela dissesse “vá escovar os dentes”, ela não gritava da segunda vez, entendeu? Então, ele adorava. Só que, com o tempo, foi perdendo a magia das câmeras. Não demorou muito não. 

1 thought on “Olhar de Cinema 2024, #02”

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