I am honored to have my short film Contorno (Contour, 2021) featured in Súitú, a touring program of short films curated by aemi, an Dublin-based institution devoted to the promotion and circulation of experimental film. Súitú—an Irish term that evokes the sound of the sea over rocks in the shoreline—premiered last year at the Cork International Film Festival, and will start its European tour with a screening in Dublin, at the Irish Film Institute, this Thursday, June 29, at 6:30pm. The program also features works by Susan Hughes, Morgan Quaintance, Bárbara Lago, Sofia Theodore-Pierce, Lisa Freeman, and Holly Márie Parnell, and is accompanied by an excellent essay by Ruairí McCann. After the screening at the Irish Film Institute, directors Lisa Freeman, Susan Hughes, and Holly Márie Parnell, will join Mark O’Gorman, Visual Arts Manager at The Complex in Dublin, for a conversation.
Contorno was made in 2021 in Cabo Frio and São Pedro da Aldeia, in Rio de Janeiro. It was the height of the pandemic in Brazil, which for me came in the wake of the massive first wave of Covid-19 that had caught me in New York less than a year earlier. The idea of the film came in between shots I was making for another film, Construção de uma Vista (Construction of a View, 2021). I was walking on the beach with my old HDSLR camera hanging from my neck, and at some point I noticed that the interaction between the camera frame rate and my own steps seemed to naturally create a kind of step printing. I am very interested in how video technology can sometimes evoke the material peculiarities of analog film, so the effect was immediately inspiring. The entire footage at Praia do Forte—the beach that serves as location for the majority of the film—was shot during that same walk, and I had a first cut by the end of that day.
While these conditions were framing the material execution of the film, with very concrete implications, Contorno is also inseparable from the less-visible intellectual labor that was taking most of my time—and still is—at that point. Since 2017, I have been working on a Ph.D. dissertation on the Brazilian filmmaker Eduardo Coutinho, whose stoic documentaries could not be more different from Contorno. At that time, I was working on the second chapter of the dissertation—which is now nearing completion—, focused on his 1991 documentary feature O Fio da Memória (The Thread of Memory). Commissioned to celebrate the centenary of the abolition in Brazil, the film had sequences shot at a house/artwork/museum in São Pedro da Aldeia called Casa da Flôr, or The Flower House. Built by the Afro-Indigenous-Brazilian artist Gabriel Joaquim dos Santos between 1912 and 1985, and left unfinished with his passing, Casa da Flôr repurposes seashells, broken plates, leftover tiles, and other discarded or found objects, creating a sculptural building that is both a personal expression by the artist, and a document of his community. A retired salt worker, Dos Santos would often go to Praia do Forte, in Cabo Frio, in his search of materials that could be used in his work, prefiguring my own visual gleaning in the location so many years later.
Contorno starts with a very brief prologue shot at Casa da Flôr, but is made entirely under the influence of Dos Santos remarkable life’s work. A few months later, I recorded an original soundtrack that was improvised to the video track, and that nods to the use of music in the video releases of the silent city symphonies, especially Alberto Cavalcanti’s Rien que les Heures (Nothing But Time, 1926), and Dziga Vertov’s Человек с киноаппаратом (Man with a Movie Camera, 1929). The video premiered online at CineBH in 2021, and was selected for Prismatic Ground, in New York, the following year. In Portuguese, the title can be read as both a verb or a noun, which means “outline.” It is also the old name of the seaside avenue at Praia do Forte, Avenida do Contorno, now Avenida Macário Pinto Lopes. I see it as a real-time narrative work made out of seemingly non-narrative elements.
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Contorno @Irish Film Institute
É uma alegria e uma honra ter o meu vídeo de curta-metragem Contorno (2021) integrado a Súitú, um programa itinerante de curtas curado pela aemi, instituição sediada em Dublin, na Irlanda, e dedicada à promoção e circulação de cinema experimental. Súitú—palavra irlandesa que evoca o som do vai-e-vem das ondas do mar sobre pedras na praia—estreou ano passado no Cork International Film Festival, e começará sua jornada pela Europa com uma sessão em Dublin, no Irish Film Institute, nesta quinta-feira, 29 de Junho, às 18h30. O programa inclui trabalhos de Susan Hughes, Morgan Quaintance, Bárbara Lago, Sofia Theodore-Pierce, Lisa Freeman, e Holly Márie Parnell, e é acompanhado por um texto excelente de Ruairí McCann. Após a sessão no Irish Film Institute, as diretoras Lisa Freeman, Susan Hughes, e Holly Márie Parnell participaram de uma conversa com Mark O’Gorman, diretor do departamento de artes visuais no centro de arte The Complex, em Dublin.
Contorno foi realizado em 2021 em Cabo Frio e São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Era o auge da pandemia, que para mim veio como uma segunda grande onda após a avassaladora chegada do vírus em Nova York menos de um ano antes. A ideia do filme surgiu no intervalo de gravações de alguns planos para um outro filme, Construção de uma Vista (2021). Caminhando na praia com a minha velha câmera HDSLR pendurada no pescoço, percebi que a interação entre o frame rate e o ritmo dos meus próprios passos criava uma espécie de step printing natural. Em geral, tenho grande interesse pelas maneiras como o vídeo pode evocar as propriedades materiais da película analógica, e a percepção daquele efeito foi suficiente para que eu começasse a filmar. Todo o material feito na Praia do Forte—que serve de locação para a maior parte do filme—foi gravado durante aquela mesma caminhada, e ao fim do dia eu já tinha um primeiro corte.
Apesar de essas condições terem disparado a execução material do filme, com implicações muito concretas, Contorno é também inseparável do bem menos visível trabalho intelectual que tomava a maior parte do meu tempo àquela altura, e ainda toma. Desde 2017, tenho trabalhado em uma tese de doutorado sobre Eduardo Coutinho, cujo estoicismo documental está há léguas de Contorno. Na época, eu trabalhava na primeira versão do segundo capítulo da tese, focado no longa documental O Fio da Memória (1991). Filme de encomenda em celebração ao centenário da abolição no Brasil, o filme inclui sequências em uma casa/obra de arte/museu em São Pedro da Aldeia chamado Casa da Flôr. Construída pelo artista Afro-Indígena-Brasileiro Gabriel Joaquim dos Santos entre 1912 e 1985, quando foi interrompida por sua morte, a Casa da Flôr é feita de conchas, pratos e azulejos quebrados, entre outros materiais descartados ou encontrados, criando um prédio escultural que é tanto uma expressão pessoal do artista quanto um documento de sua comunidade. Trabalhador de salina aposentado, Dos Santos ia frequentemente à Praia do Forte, em Cabo Frio, em busca de materiais que pudessem ser incorporados à obra, prefigurando a minha catação visual naquela mesma praia tantos anos depois.
Contorno abre com um brevíssimo prólogo filmado na Casa da Flôr, e existe sob a direta influência do extraordinário trabalho de vida de Gabriel Joaquim dos Santos. Alguns meses depois, eu gravei uma trilha-sonora original que foi improvisada, canal por canal, junto ao vídeo já montado, e que acena às músicas incorporadas aos lançamentos em vídeo das silenciosas sinfonias da cidade, como Rien que les Heures (1926), de Alberto Cavalcanti, e Человек с киноаппаратом (O Homem com a Câmera, 1929), de Dziga Vertov. O vídeo teve estreia online na CineBH, em 2021, e foi selecionado para o festival Prismatic Ground, em Nova York, no ano seguinte. O título pode ser lido como verbo e como substantivo, e alude ao antigo nome da avenida que beira a Praia do Forte—Avenida do Contorno, hoje Avenida Macário Pinto Lopes. Para mim, trata-se de um filme narrativo em tempo real, realizado a partir de elementos aparentemente não-narrativos.
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