The limits of control
Jacques Demy’s The Umbrellas of Cherbourg (Les Parapluies de Cherbourg, 1964) is known primarily for two structural elements: the relentlessness of Michel Legrand’s music score, which literally turns every single bit of a dialogue into song; and the striking use of color, which treats every surface on set as canvas to express and shape emotion. They are, therefore, evidence of control, elements in which the fingerprints of the director and his crew are not only apparent but pushed to the foreground.
Yet the film’s most poignant moment happens around 36 minutes in, when Geneviève (Catherine Denueve) tells her controlling mother (Anne Vernon) that the love of her life, Guy (Nino Castelnuovo), is leaving for the war in Algeria. Her mother, who was never happy with their relationship in the first place, sings: “Two years from now you may have forgotten Guy completely.” The camera tracks forward, turning the two-shot of Geneviève and her mother into an asphyxiating close-up, as the protagonist looks down, defeated. Just as the camera lands, she looks up, stares directly into it singing: “No, I’ll never forget him.” And then something monumental happens: her eyes are red.
Amidst the film’s unyielding craft, Deneuve’s red eyes are like a violent crack in a heavily controlled facade… it’s as if the film’s thick, exquisitely colored curtains were suddenly pulled apart just enough for a timid slit of sunlight to come through and dramatically change every tone, every shade. Demy’s painterly approach suddenly pulls back to become an ornamented frame, preparing the stage just so life can burst through where one least expects. Yet, at the same time, the tracking shot is perfectly timed, Deneuve’s gaze is full of intention, and that infiltration of flesh, of tissue and blood, is also a splash of red on a white canvas, a puddle of color among colors.
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Os limites do controle
Os Guarda-Chuvas do Amor (Les Parapluies de Cherbourg, 1964), de Jacques Demy, tornou-se célebre especialmente por dois elementos estruturais: a persistência da trilha musical de Michel Legrand, que transforma literalmente todo o diálogo do filme em canção; e o uso marcante da cor, que trata cada superfície do cenário como uma tela capaz de expressar e moldar emoção. São, portanto, elementos de controle, que exibem as digitais do diretor e da equipe em sua mais imediata superfície.
No entanto, o momento mais forte do filme ocorre a cerca de 36 minutos de projeção, quando Geneviève (Catherine Denueve) conta à sua controladora mãe (Anne Vernon) que o amor de sua vida, Guy (Nino Castelnuovo), irá para a Argélia tomar parte da guerra. Sua mãe, que nunca escondeu suas reservas ao relacionamento, canta: “Em dois anos você terá esquecido Guy completamente.” A câmera faz um dolly para a frente, reenquadrando o plano conjunto de Geneviève e sua mãe em um asfixiante close up, enquanto a protagonista olha para baixo, derrotada. Mas, assim que a câmera pára, ela olha para cima e olha diretamente para a objetiva, cantando: “Não, jamais vou esquecê-lo.” Neste instante, algo monumental acontece: seus olhos estão vermelhos.
No turbilhão de todo aquele esforço criativo, os olhos de Deneuve são como uma violenta rachadura em um muro de controle… como se as densas e coloridas cortinas do filme fossem subitamente abertas apenas o suficiente para que uma tímida nesga de luz irrompesse, mudando dramaticamente cada tom, cada nuance. A abordagem pictórica de Demy subitamente se torna apenas uma moldura que ornamenta o palco e enquadra a vida, para que ela entre em erupção onde menos se espera. E, ao mesmo tempo, o movimento de câmera tem o timing perfeito, o olhar de Deneuze transborda intenção, e aquela infiltração de carne, de células e sangue, é também um jorro de vermelho sobre tela branca, uma poça de cor entre cores.