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Red Hook Summer (2012), Spike Lee

Publicado originalmente em antigo blog pessoal em Outubro de 2012.

O conflito geracional em Red Hook Summer parece sobretudo focado em uma bifurcação: a geração da palavra e a da imagem. Silas não só passa todo o tempo mediando sua relação com o mundo fazendo filmes em seu iPad 2, como muda seu nome para Flik (mesma pronúncia de “flick”, gíria para “filme”). Até para conversar com a mãe, Silas usa o vídeo do Skype. Seu avô, o pastor Enoch, é o sujeito da palavra com P maiúsculo, que prega com os olhos fechados, como um antepassado dos rappers que criam caso com Silas justamente quando ele se oferece para filmá-los.

Silas chega no casa do avô e seu primeiro questionamento é quanto à imagem de Jesus. “Ele é branco?”. Para Enoch, a imagem é somente uma representação, o que importa é o que ela representa. Mas não para Silas. Toda a relação de Silas com Chazz é mediada pela grafia no cimento – uma forma de transformar a palavra em imagem. Chazz é mediadora possível no filme, transitando com igual desenvoltura pelo regime oral e o imagético.

Spike Lee não costuma se dar por satisfeito apenas provocando conflitos. Na cena cabal de Red Hook Summer – aquela em que o pastor Enoch conta para o neto o que fez com o jovem que voltou do passado para ir caçá-lo em sua nova tentativa de vida – a palavra é instrumento de sedução; justamente por isso, é necessário mostrar. O corte do depoimento para a encenação da lembrança – com todo o asco que ela provoca – é o grande gesto político deste Red Hook Summer, equivalente àquele em que Silas entrega seu iPad 2, com uma imagem estampada na tela, a Chazz. Em um bairro esquecido até pelo onipresente metrô de Nova York, a imagem retoma seu caráter de suporte possível da lembrança.

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