Publicado originalmente em um antigo blog em Agosto de 2011.
Há um clichê não só crítico, mas também cinematográfico, de que planos de duração estendida permitem que o mundo diante da câmera se revele com maior inteireza, ou algo do tipo. Nessa afirmação, há uma constatação lógica de que o tempo permite que algumas coisas se manifestem com maior propriedade, mas são poucos os filmes que dão a sensação de levar isso a cabo em cada plano.
The Exploding Girl é um desses raros filmes em que a inscrição dos gestos dentro de uma duração – em enquadramentos de notável precisão e, por isso mesmo, beleza – confere a qualquer pequena contração de rosto (dado essencial para um filme focado em uma garota que sofre de epilepsia, e que será trabalhado com bastante inteligência pelo diretor, invertendo qualquer possibilidade de vulgaridade), a qualquer variação de luz, a qualquer fala engolida pela metade uma expressividade sobrenatural.
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É um filme de alguém que não só viu e entendeu a arte de Tsai Ming-liang e Hou Hsiao-hsien – ao ponto de uma mesma cena de Café Lumière (2003) ser recriada diversas vezes ao longo do filme – mas de que compreendeu de que a mágica do cinema deles não está na simples adoção do banal, mas na capacidade de transformar o banal em verdadeiros monumentos épicos.
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E, ainda assim, The Exploding Girl se faz mais belo por essa monumentalidade ser erguida com uma fundamental leveza. Se há, no filme, substrato para se denunciar um drama moderno – os danos emocionais de quem guarda o mundo dentro de si, e que em algum momento vai “explodir” fisicamente – o tratamento dado por Bradley Rust Gray a esse mundo parece condensado na imagem que faz fundo aos créditos finais, onde pequenas penas que caem ao chão são reproduzidas em reverse, flutuando em uma anti-gravidade que é fruto direto e inalienável de uma decisão realizadora.
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