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The Flowers and the Angry Waves (花と怒濤, 1964), Seijun Suzuki

Publicado originalmente em antigo blog pessoal em Janeiro de 2010.

Lembro que, em uma das primeiras aulas que tive na faculdade de Cinema com Hernani Heffner, ele disse – com toda uma carga de choque político – que os dois gêneros cinematográficos mais importantes para o cinema contemporâneo eram o wuxia (aventuras de capa e espada de origem Chinesa) e o pornográfico. Não lembro da justificativa dada pro wuxia, mas quanto ao pornô, ele dizia que a obrigação de se filmar sempre a mesma coisa de maneira diferente/interessante fez com que alguns diretores empreendessem pesquisas formais no uso de filtros, luz, lentes, etc, que seriam decisivas para o cinema posterior.

Assistindo a The Flowers and The Angry Waves – filme com nome de banda de garagem e pouco lembrado na extensa filmografia do também pouco lembrado gênio louco japonês Seijun Suzuki – a leitura de Hernani pro cinema erótico parecia se encaixar perfeitamente à trajetória de Suzuki. Mesmo passando por gêneros tão diversos quanto o wuxia – mais especificamente, chanbara, como o gênero é conhecido no Japão – os filmes de yakuza e o pornô soft, Suzuki se dedicou quase exclusivamente a filmar pequenas variações do arquétipo samurai mais associado a Yojimbo (1961), de Akira Kurosawa. Jim Jarmusch, inclusive, dizia ter se apaixonado pelos filmes de Suzuki vendo cópias sem legenda – o que ressalta o quanto a narrativa aparece mais como algo a ser solucionado do que valorizado. Suzuki se dedicava a refilmar esse mesmo fiapo de trama sempre de maneiras novas, instigantes e interessantes; com isso, realizou alguns dos experimentos mais tresloucados e absurdos da história do cinema – a ponto de, como é sempre bem lembrado, ter sido proibido pelo estúdio Nikkatsu de voltar a fazer filmes em cores, após a apoteose cromática que é Tóquio Violenta, de 1966).

The Flowers and the Angry Waves é uma sucessão asfixiante de planos belíssimos, sejam eles por razões plásticas ou pela maneira como Suzuki movimenta a câmera para produzir certos efeitos dentro da cena. Para se ter uma idéia do rigor visual, os três planos seguintes aparecem entrecortados por dois ou três close-ups dos atores, logo nos primeiros três minutos de filme.

Mas o mais impressionante é que Suzuki tem sempre a liberdade de espírito de cortar de planos tão belos quanto esses para sequências esdrúxulas de matança desgovernada, de humor vagabundo, ou de latente tensão sexual. Sua irreverência é tamanha que ele parece não respeitar nem a solenidade da beleza, nem a da vagabundagem – que, muitas vezes, pode se tornar uma camisa de força tão cerceadora quanto a obsessão pelo belo plano. The Flowers and The Angry Waves reafirma a sensação de que, por mais que vários diretores gostem de clamar essa estratégia para si, Suzuki sim era um cineasta que se permitia fazer rigorosamente qualquer coisa.

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