1. Austin Choi-Fitzpatrick, The Good Drone: How Social Movements Democratize Surveillance (Cambridge, Mass: The MIT Press, 2020), 124:
“The earliest cameras on record trace back to the camera obscura—a dark space with an opening at one end, through which the light passed, and a flat surface at the other, upon which the inverted image landed… One important lesson that can be drawn from this origin story is the simple fact that, as (Kaya) Silverman observes, the technology stood on its own, figuratively and literally:
‘Since the viewer had to enter the classical camera obscura in order to see its images, he [sic] was also a receiver. This would have been hard to ignore, because the device had no focusing mechanism. The only way the viewer could render its often hard-to-see images more legible was to move around the sheet of paper on which they were received until he found the point at which they came into focus—i.e., to participate in the reception process.’ (Kaja Silverman,
The Miracle of Analogy, or the History of Photography, Stanford University Press, 2015, 15.)
What I want to emphasize here is not the metaphorical foundation the camera obscura laid for later photographic technology, but rather the materiality of an actual foundation. In its earliest days, the camera was a place, rather than a thing. It was a fixed space where light streamed constantly, should an observer care to look. The light did not care either way; it came and went as it pleased, with nothing to hold it down.”
2. Bette Gordon on The United States of America (Bette Gordon & James Benning, 1975)
“I had just bought my first car, a Volkswagen squareback, and we bolted this piece of wood to the car and then put a kind of a screw up, so that it fit the Bolex perfectly. So you put the camera mounted into the car. But the Bolex only used to use a wind so that you could only shoot for 30 seconds, but you could get a motor. So we got a motor. We put that onto the Bolex and a little electrical cord that could go into the front seat between the two of us, and the camera could now be turned on automatically by moving the light switch to the on or off position. So we’re basically inside of a camera, and often we’d see something and we turn around and say, we really want a shot of these cows, but you couldn’t pan the camera because it was locked down, so you would make a left-hand turn. So it was as though you were driving the camera.” (Video interview produced by Kim Hendrickson and Hillary Weston for the Criterion Channel, 2020).
3. La Chambre (Chantal Akerman, 1972)
Ivone Margulies on La Chambre, in “Two Rooms, Monologues, Imaginaries, as Seen Through Their Texts,” Film Quarterly 70.1 (Fall 2016) 70:
“(…) La Chambre neatly fits within the structural model of American avant-garde cinema that so influenced Akerman’s films, namely the adoption of a rigid formal structure that is in tension with unexpected gestures or movements. A 360-degree pan from right to left and back scans a small sunny studio and from time to time the camera faces a young woman lying on a bed. She gazes back, she masturbates, she eats an apple, as the camera passes her by, revealing a kettle, a sink, a chest of drawers.”
Chantal Akerman is in a room. The spectator is in a room watching Chantal Akerman in a room.
A room. Chamber. Chambre.
Chambre: bedroom; room; chamber;
(cœur d’appareil photo) optical chamber;
(“La chambre est la partie photosensible d’un appareil photographique.”) The optical chamber is the light-sensitive part of a camera.
Chantal Akerman is in the camera. The viewer is in the camera watching Chantal Akerman in the camera. The camera watches the camera.
* * *
O lugar da câmera
1. Austin Choi-Fitzpatrick, The Good Drone: How Social Movements Democratize Surveillance (Cambridge, Mass: The MIT Press, 2020), 124:
“As primeiras câmeras de que temos notícia remontam à câmera escura – um espaço escuro com uma abertura em uma extremidade, por onde a luz passava, e uma superfície plana na outra, sobre a qual a imagem invertida se formava… Uma lição importante que pode ser extraída dessa história de origem é o simples fato de que, como observa (Kaya) Silverman, a tecnologia era autônoma, literal e figurativamente:
‘Como o espectador tinha de entrar na câmera obscura clássica para para ver suas imagens, ele [sic] também era um receptor. Isso certamente era evidente, pois o dispositivo não tinha mecanismo de foco. A única maneira pela qual o espectador poderia tornar suas imagens, muitas vezes difíceis de serem vistas, mais legíveis era movendo a folha de papel até encontrar o ponto em que elas entravam em foco. Ou seja, era necessário participar ativamente do processo de recepção.’ (Kaja Silverman, The Miracle of Analogy, or the History of Photography,
Stanford University Press, 2015, 15.)
O que quero enfatizar aqui não é a fundação metafórica que a câmera obscura estabeleceu para a tecnologia fotográfica posterior, mas sim a materialidade de uma base real. Em seus primórdios, a câmera era um lugar, e não uma coisa. Era um espaço fixo onde a luz fluía constantemente, caso o observador quisesse olhar. À luz, nada importava; ela ia e vinha como queria, sem nada que a restringisse.”
2. Bette Gordon on The United States of America (Bette Gordon & James Benning, 1975)
Eu tinha acabado de comprar meu primeiro carro, um Volkswagen Squareback, e nós prendemos um pedaço de madeira no carro e depois colocamos uma espécie de parafuso, para que se encaixasse perfeitamente na Bolex. Assim, a gente conseguia prender a câmera dentro carro. Mas a Bolex era uma câmera de corda, de modo que você só podia filmar por 30 segundos, mas era possível acoplar um motor. Então, compramos um motor, colocamos na Bolex, com um pequeno cabo elétrico que podia ficar no banco da frente entre nós dois, e a câmera agora podia ser ligada automaticamente com um interruptor. Então, basicamente, estávamos dentro de uma câmera e, muitas vezes, nós víamos algo na estrada e nos virávamos e dizíamos: “Queremos muito filmar essas vacas”, mas não era possível fazer a panorâmica da câmera porque ela estava travada, então precisávamos manobrar o carro. Era como se você estivesse dirigindo a própria câmera. (Entrevista em vídeo produzida por Kim Hendrickson e Hillary Weston para o Criterion Channel, 2020).
3. La Chambre (Chantal Akerman, 1972)
Ivone Margulies sobre La Chambre, em “Two Rooms, Monologues, Imaginaries, as Seen Through Their Texts,” Film Quarterly 70.1 (Fall 2016) 70:
“Em sua versão silenciosa de circulação mais frequente, La Chambre se encaixa perfeitamente no modelo estrutural do cinema de vanguarda americano que tanto influenciou os filmes de Akerman, ou seja, a adoção de uma estrutura formal rígida que está em tensão com gestos ou movimentos inesperados. Uma panorâmica de 360 graus da direita para a esquerda e vice-versa percorre um pequeno estúdio ensolarado e, de tempos em tempos, a câmera encara uma jovem mulher deitada em uma cama. Ela olha para trás, se masturba, come uma maçã, enquanto a câmera passa por ela, revelando uma chaleira, uma pia, uma cômoda.”
Chantal Akerman está em um quarto. O espectador está em um quarto observando Chantal Akerman em um quarto.
Um quarto. Câmara. Chambre.
Chambre: quarto; cômodo; câmara;
(cœur d’appareil photo) câmara ótica;
(“La chambre est la partie photosensible d’un appareil photographique.”) A câmara ótica é a parte sensível à luz de uma câmera.
Chantal Akerman está na câmera. O espectador está em uma câmera observando Chantal Akerman em uma câmera. A câmera observa a câmera.