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The city as editor

VERSÃO EM PORTUGUÊS

Before leaving Rio and returning to New York, I had the chance to watch the premiere of Kleber Mendonça Filho’s Retratos Fantasmas (Pictures of Ghosts, 2023), an excellent and peculiar documentary about the affective consequences of urban transformations in Recife, with a special attention to the palimpsestic history of street-level cinemas in the city’s downtown area with the progressive rearrangement in multiplexes and shopping malls. The film will soon have its premiere at NYFF, and it is definitely worth seeing. One of its most poignant sequences centers on theater marquees, and how the titles of films interacted with socio-political moments once captured in photographs. It is an evocative image to the waning power of cinema as a social commentator, and the city as an editor—an agent that organizes, expresses, and gives form to collective anxieties and aspirations. 

Two days after watching that film at Odeon, the last surviving movie palace at Cinelândia—a Rio neighborhood who carries in its name its original vocation as a complex of movie theaters in the 1930s—I went to Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, which is about a 20-minute walk away. On the top floor, there was the exhibition “Desculpe Atrapalhar o Silêncio de Sua Viagem,” by another Recife-based artist, Lia Letícia—a multimedia artist who has also made works for cinema. Among the works on display, there were two pieces that engaged in a productive conversation with Pictures of Ghosts: the 3-minute video Shhh! (2004)—which can be watched in its entirety on Vimeo—and Arte É Comércio (Art is Commerce, 2007-2023, photo). In the video, Letícia walks in a since-deactivated pedestrian passage in Avenida Conde da Boa Vista—one of the main avenues in Recife—reading the names and words on shop signs that border the avenue, turning that promenade into a work of Situationist poetry. In Art is Commerce, she collects photographs of shop signs—hairdressers, restaurants, dive bars—that include the word “arte” (art). 

United by Recife, Lia Letícia’s and Kleber Mendonça Filho’s works were reunited by my own wanderings in Rio, reactivating their original public character in a different context. Through flashbacks, juxtapositions, and mental cutaways, the city was the timeline where these distinct moments of another city could interact in the present.


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A cidade-montagem

Antes de retornar do Rio para Nova York, tive a oportunidade de assistir a uma das pré-estreias de Retratos Fantasmas (2023), excelente e peculiar documentário de Kleber Mendonça Filho sobre as consequências afetivas das transformações urbanas do Recife, com atenção especial à história dos cinemas de rua do Centro da cidade que se torna palimpséstica com a progressiva concentração do parque exibidor em shoppings e multiplexes. Uma das sequências mais fortes do filme versa sobre as marquises dos cinemas, e como, hoje capturados apenas em fotografias, os títulos dos filmes em exibição interagiam com momentos da vida sócio-política da cidade. É imagem que evoca com grande força o hoje minguante papel do cinema como comentarista social, e da cidade como montadora—agente que organiza, expressa, e dá forma a ansiedades e aspirações coletivas. 

Dois dias após assistir ao filme no Odeon, o último “movie palace” ainda (parcamente) ativo na Cinelândia—região carioca que foi batizada como hub de salas de cinema na década de 1930—, fui ao Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, que fica a mais ou menos vinte minutos de caminhada dali. No último andar, estava instalada a exposição ”Desculpe Atrapalhar o Silêncio de Sua Viagem,” de outra artista do Recife, Lia Letícia—criadora multimídia que também já realizou trabalhos para a sala de cinema. Entre as obras em exibição, duas estabeleciam produtivo diálogo com Retratos Fantasmas: o vídeo de 3 minutos de duração Shhh! (2004)—disponível na íntegra no Vimeo da artista—e Arte É Comércio (2007-2023, foto). No vídeo, Letícia caminha por uma hoje desativada passagem de pedestres na Avenida Conde de Boa Vista—uma das principais do Recife—lendo os nomes e palavras nas fachadas de lojas que a margeiam, transformando aquele passeio em poema Situacionista. Em Arte É Comércio, ela reúne fotografias de letreiros comerciais—cabeleireiros, restaurantes, botequins—que trazem a palavra “arte” no nome. 

Conectadas por Recife, as obras de Lia Letícia e Kleber Mendonça Filho eram religadas pelos meus próprios passos no Rio de Janeiro, reativando sua vocação pública original em um contexto totalmente distinto do original. Por flashbacks, atrações, e cutaways mentais, a cidade fazia-se timeline onde momentos de vida de uma outra cidade interagiam, fazendo, do passado mais ou menos distante, um outro presente. 

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