Publicado originalmente na Cinética em Setembro de 2009.
O Mercado é um melodrama que combina dramas sociais com a intenção bastante clara de não ser, ainda assim, uma experiência pesada para o espectador. Todo os anos o Festival do Rio traz diversos filmes que respondem a esse formato, muitas vezes já legitimados por festivais estrangeiros (no caso de O Mercado, o maior feito de currículo é o Leopardo de Prata para o ator Tayanç Ayaydin, no Festival de Locarno), que se acumulam em uma pilha de nulidades destinada a ser esquecida antes mesmo do fim da temporada de filmes. O Mercado é apenas mais um, e a falta de substância cinematográfica de filmes como esse não é, sequer, um desafio crítico; como não há cinema de onde partir, não há crítica de cinema a se fazer. O que existe é uma decupagem pálida, com o desejo de parecer suficientemente “artística” para entrar em festivais, partindo da inversão etnocêntrica que se assume o “outro” e, como tal, é preciso revelar algo da “realidade” desse local exótico para suprir a ingenuidade dos olhares cultivados do primeiro mundo. O protagonista é um contrabandista – afinal, é preciso motivar reflexões sociais – mas somente por força das contingências, pois seu bom coração o levará a cometer um crime ético que complicará o resto de sua vida, que o filme – sem sujar as mãos – apenas sugere com um final aberto. Ben Hopkins troca a doçura pela docilidade, e filmes dóceis são rapidamente domesticados pela vida improdutiva do mercado de festivais.