Publicado originalmente na Cinética em Setembro de 2008.
Em sua primeira meia hora, Jericó consegue um curto-circuito formal francamente interessante. Christian Petzold constrói uma estrutura de sensível leveza, com características que fazem lembrar Hong Sang-soo ou Aki Kaurismaki. Estão lá as atuações esvaziadas, a predominância ligeira dos tableaux, a fotografia pontualíssima, os enquadramentos discretos e a depuração da cena aos seus elementos mínimos e essenciais. O curto-circuito, porém, vem pela maneira como o diretor usa essa leveza de estrutura, mas não incorpora esse sentimento ao que ele filma. Pois Jericó é um filme de suspense, e se mantém envolvente enquanto essa leveza produz um mistério que lhe é dissonante. Mas logo o filme se assume confortavelmente como mais uma adaptação de O Destino Bate à Sua Porta – livro de James M. Cain adaptado inúmeras vezes para ao cinema, boa parte delas por diretores mais talentosos que Petzold. Uma vez definidas as razões para o incômodo suspense, a força de Jericó se esvai quase por completo, e o minimalismo das construções cênicas deixam entrever que, embora um bom artesão de climas, Petzold tem limitações incontornáveis de dramaturgia.