Publicado originalmente na Cinética em Setembro de 2008.
Primeira grande produção dirigida por Terra Shin, Casa Negra filia-se à indústria de gênero conhecida como K-Horror – movimento sul-coreano pensado aos moldes do novo cinema de horror japonês. Passando longe tanto do teor político de Bong Joon-ho (O Hospedeiro, 2006), quanto do psicologismo gore de um Park Chan-wook, Casa Negra busca pares no Japão: a mise-en-scène de Terra Shin estaria em algum ponto morno entre o niilismo exuberante de Takashi Miike e a frieza clínica de Kyoshi Kurosawa (ambos com filmes presentes no Festival). “Morno”, porém, é palavra importante: para além de uma mínima eficiência narrativa, Casa Negra é marcado por uma visível confusão de registros. Oscila entre o horror e o humor, entre o estático e o pulsante, entre a sugestão e a revelação explícita, gerando uma pane formal que é mais fruto de uma notável insegurança do realizador, do que de um desejo mais ousado de retrabalhar as convenções do gênero. Embora cumpra com alguma dignidade suas intenções, Casa Negra ganha espaço no Festival mais como um representante aleatoriamente pinçado de um gênero pouco difundido por aqui, do que como uma experiência cinematográfica digna de particular atenção.