Publicado originalmente em antigo blog pessoal em Dezembro de 2012.
Há aquela correria tediosa no terço final, que tem surgido como solução para todos os últimos filmes de Tim Burton (desde?) e que parece funcionar menos a cada filme. Mas certos diretores não precisam de mais do que um gesto para afirmarem sua contribuição, e o de Tim Burton neste Frankenweenie está na maneira como o diretor, muito hábil e sutilmente, evita a todo custo mostrar o caõzinho morto.
Desde o atropelamento até o momento da ressurreição, a dedicação de Burton em esconder de nossos olhos o cadáver é a afirmação de que, no cinema, o que não é mostrado não acontece (mesmo no caso das elipses, que trabalham justamente na lacuna entre o não-visto e o não-acontecido). Justamente por isso, o cinema é o único lugar em que a fábula de quem volta do mundo dos mortos (e, novamente, Frankenweenie – como A Viagem de Chihiro, como Coraline, como Avatar, é mais uma leitura do mito de Orfeu) deixa de ser fabula, pois está intimamente impressa no que lhe há de mais concreto, constitutivo: o poder de fazer os mortos andarem. E que isso, no filme, mantenha o caráter científico inalienável do cinema, mas só se configure de fato – só venha a ser de fato – com algumas gotas de sentimento – solução salínica de prata – de dor por um mundo que se foi sem culpa, com o rabo balançando até o limbo onde não há pecado que não o original (a ficção), é apenas o último nó que aperta os olhos e faz com que toda correria final passe desapercebida, fascinados que estamos com aqueles falsos cadáveres animados, que passam para lá e para cá.