Publicado originalmente na Cinética em Outubro de 2010.
A Empregada não deixa dúvidas do talento possível de Im Sang-soo: há cenas de morte filmadas com notável vigor, enquadramentos em scope bastante refinados, e uma meia dúzia de belos planos de estrada. Ainda assim, Im Sang-soo tem uma dificuldade tão grande em estabelecer o tom do filme que acaba impedindo que sua refilmagem para o clássico sul-coreano, dirigido por Kim Ki-young, se firme como mais do que uma mera curiosidade. Ao mesmo tempo em que temos cenas de timing bastante preciso, A Empregada é abalado por uma estranheza de tom que parece se acomodar em um meio do caminho pantanoso entre o naturalismo e a extrema paródia. Embora essa posição pudesse produzir um curto-circuito de registros interessante, no filme de Im Sang-soo ela atravanca a imersão sem produzir nada com essa opacidade. A se confirmar pelo aberrante final à David Lynch, A Empregada parece mesmo é disposto a atirar para todos os lugares que lhe parecerem férteis, mas sem alcançar com isso uma eficiência mais superficial, ou tampouco um mergulho de corpo inteiro em cada promessa de esquizofrenia.