Publicado originalmente na Cinética em Setembro de 2010.
Pobre Isabelle
Há poucas situações tão dolorosas e indesejadas ao se assistir um filme quanto testemunhar um artista de talento inquestionável se desgastando por um projeto sem qualquer possibilidade de brilho, ou mesmo de se manter de pé. É um pouco o caso de Isabelle Huppert, interpretando Babou (sim, Babou) neste Copacabana – filme tão bem intencionado e politicamente correto em seu acolhimento a tudo que parece levemente estranho ou estrangeiro (mas só levemente; bem levemente) que não consegue respirar qualquer possibilidade de real humor ou invenção.
O que temos, ao contrário, é uma dessas comédias de coração leve demais para suportar qualquer graça – um pouco como um Divã (2009) à francesa – projetada para as sensibilidades de meia-idade, que podem até tolerar uma ou outra aparente subversão (Isabelle Huppert tem até a ousadia de dividir um baseado com sua chefe) desde que ela pareça ocasional, bem intencionada e descompromissada. Comédia de mulher antecipada, de quem aceita os problemas da vida com uma alegria fraquinha, e que tenta fazer essa aceitação murcha parecer traço de personalidade. Copacabana é movido por esse otimismo inabalável, por esse olhar que decompõe o mundo em tons pastéis – de vista bem composta o suficiente para ter sido produzida pela insensibilidade de um computador – e que encara até o mais maçante dos trabalhos como férias no balneário.
Faz pouca diferença que, por trás dessa entrega pró-ativa à vida, se esconda uma mal resolvida relação entre mãe e filha – relação que só sabemos ser mal resolvida por o filme assim nos ditar (letra por letra, pra não correr o risco de que alguém não entenda), sem deixar antever qualquer possibilidade de organicidade, de dubiedade ou imprevisibilidade que pudesse criar um mínimo de relevo no que se vê. Mas na direção de Marc Fitoussi não há, tampouco, intenção de explorar essa planificação (pensemos em Rohmer de Conto de Verão, por exemplo), pois não há acaso possível: os problemas se resolverão com uma aposta em um cassino, a conciliação é comprada por um golpe de sorte – já que a filha se mostra capaz de aceitar a “excentricidade” de sua mãe desde que ela seja capaz de pagar parte da cerimônia de seu casamento – e tudo se resolve com uma entrada de bateria de escola de samba (ok, uma meia-dúzia de passistas e dois instrumentistas), para que Isabelle Huppert possa sambar sua falta de graça com um penacho na cabeça. Copacabana é um filme um bocado triste.