Publicado originalmente em antigo blog pessoal em Fevereiro de 2010.
Uma das ambições centrais de Guerra ao Terror parece ser a de estabelecer a sensação de perigo da guerra enfatizando as limitações de visibilidade. Existem cenas que trabalham isso de maneira mais literal – que vão desde o uso da bomba de fumaça pelo sargento William James em sua primeira operação à longa e belíssima sequência dos atiradores escondidos em um prédio no meio do deserto – mas esse dado está realmente no centro da atividade do esquadrão de bombas. Basta lembrar da sequência em que William descobre que a bomba que desarmara estava conectada a várias outras, todas elas enterradas ao seu redor.
A todo momento, o desafio do esquadrão protagonista é justamente o de enxergar o que é feito invisível. Mas Kathryn Bigelow usa um recurso que é ainda mais rico para alimentar essa leitura, talvez por ser ainda mais simples. Bigelow faz uma equivalência do deserto à selva (lugar onde os filmes de guerra costumavam se passar quase que exclusivamente até 10 ou 15 anos atrás), retirando das personagens qualquer possibilidade de referência espacial (lembremos da sequência à noite onde a cidade é filmada como um labirinto). Mais interessante, porém, é a maneira como ela transmite esse desamparo ao espectador, que é quebrando a todo momento o eixo da câmera. Essa opção faz com que cada corte se torne um exercício de suspense, embaralhando por completo os signos que permitem uma primeira identificação dos protagonistas. Em um momento vemos um soldado aliado à esquerda do protagonista, mas uma quebra de eixo o coloca, no plano seguinte, à sua direita. Esses primeiros segundos de entendimento do plano são, assim, ofuscados pela incerteza de identificação, onde a mão em close de um companheiro pode sempre se passar pela de um inimigo.