Publicado originalmente na Cinética em Setembro de 2009.
O Clone Volta Pra Casa é um melodrama de ficção científica onde a clonagem tenta levantar questões psicológicas e cinematográficas de grande potência (o duplo), sempre cobrindo o sci-fi com um verniz de cinema “de arte”. Temos um pouco de Kubrick, claro, mas o desejo real de Kanji Nakajima é usar pequenos bocados de diversas referências do cinema contemporâneo: temos ali um papinho sobre a memória pra evocar 2046 (2004), de Wong Kar-wai; a existência do duplo que faz pensar em Doppleganger (2003), de Kyioshi Kurosawa; ecos mal ouvidos de O Rosto de um Outro (1966), do Hiroshi Teshigahara; e a fotografia de highlights brancos que traz de volta os hospitais de Síndromes e um Século (2007), de Apichatpong Weerasethakul. Tudo isso, porém, se curva a um simbolismo absolutamente didático, que Kanji Nakajima parece acreditar ser muito mais profundo do que é. Por mais que mimetize os enquadramentos, e às vezes até a encenação de Apichatpong Weerasethakul, Nakajima tira toda a vida dessa apropriação ao adequá-la a um conteúdo dramatúrgico tão bobo quanto auto-importante. É digno de especial atenção o trabalho de edição de som, que faz rimas banais como se elas fossem realmente especiais (o barulho do dedo contra a borda do copo e os drones, por exemplo), constrói atmosferas a partir das cartilhas mais surradas do gênero, e ainda faz cortes pro silêncio como se ele acabasse de ter sido inventado. Ao fim, a única memória deixada por O Clone Volta Pra Casa é a atroz estupidez com que ele consegue reduzir muito do que de mais desafiador foi feito no cinema recente a um tedioso jogo de convenções.