Publicado originalmente na Cinética em Outubro de 2008.
Ano Unha é introduzido por uma cartela que diz que o filme nasce de um roteiro ficcional, escrito a partir de fotografias e personagens registrados de maneira documental. Que o espectador não se engane: não há, aqui, sinal ou intensão do trânsito no entre-gêneros de um La Jetée (1962), de Chris Marker, mas sim uma clássica fotonovela, substituindo, apenas, as legendas das revistas por atores que falam e pensam em off. Nos primeiros vinte minutos, Jonás Cuarón (filho de Alfonso) faz esforço perceptível para inflar sua opção estilística com “substância”. O resultado é bastante desanimador: personagens extremamente tipificados, em jorros de consciências privadas onde toda palavra é escrita com traços que desenham um discurso. Mas quando o filme reduz sua ambição a uma estória boy meets girl¸ Ano Unha larga boa parte de seu peso pelo caminho, flutuando entre boas piadas e um feelgood que, até então, não parecia ter lugar entre aquele desfile de preconceitos. Aos poucos, o registro fotográfico parece responder menos à intenção de Molly (Eireann Harper, interpretando a menina que viaja apenas para tirar fotos), e encontra maior simpatia no desejo de Diego (Diego Cataño) quando diz: “Queria congelar esse momento e vivê-lo para sempre”. Suando o excesso de pretensão pelo caminho, Ano Unha aos poucos conquista momentos de sincero engajamento do público. O que, vistos os primeiros vinte minutos de filme, é muito mais do que qualquer espectador poderia esperar.